Martin Scorsese ganhou com The Departed - Entre Inimigos, num final com alguma emoção (afinal, Babel corria à frente no Melhor Filme, apesar do favoritismo Scorsese para Melhor Realizador). A noite foi morna e demasiado "partida", sem vencedores claros. El Laberinto del Fauno, por exemplo, arrancou imparável, mas falhou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. O grande derrotado é Babel e o vestido indescritível de Jennifer Hudson, que ganhou a Melhor Actriz Secundária. A lista completa de vencedores aqui e de como fomos ao tapete aqui.
[E entretanto na mesa do lado serviram-se framboesas. Instinto Fatal 2 e A Senhora da Água, por exemplo, são alguns dos grandes vencedores.]
Porque uma noite fantástica pode passar-se inteiramente no sofá.
E isso inclui a música de Ry Cooder.
Harry Dean Stanton e Nastassja Kinski em “Paris, Texas”, de Wim Wenders (1984)
Passei estas duas últimas noites com este senhor.
Pelas mãos sábias de Martin Scorsese, o desvendar de parte do mundo de Robert Allen Zimmerman provocou em mim uma crescente admiração. Sobretudo pela sua extraordinária fidelidade a si mesmo, porque a música, essa, já me tinha tocado há algum tempo.
Por isso ele estará na banda sonora por estes dias, e porque o vento anda carregado de respostas.
GOING, GOING, GONE (1964)
(...)
I'm closin' the book
On the pages and the text
And I don't really care
What happens next.
I'm just going,
I'm going,
I'm gone.
I been hangin' on threads,
I been playin' it straight,
Now, I've just got to cut loose
Before it gets late.
So I'm going,
I'm going,
I'm gone.
(...)
Sentimento excessivo.
Felicidade excessiva.
Sofrimento excessivo.
Não há lugar para moderações na ópera cinematográfica que é este filme.
“Senso” de Luchino Visconti (1954)
Porque “apenas compreendemos a estrada no final do nosso caminho” e porque “a verdade está em tudo, mesmo no erro”, só nos resta andar e tropeçar de vez em quando.
Mas andar, quand même.
Emprestando-nos aos outros, mas dando-nos apenas a nós próprios.
“Vivre Sa Vie” de Jean-Luc Godard (1962)
“Il faut se prêter aux autres et se donner a soi-même.”
MONTAIGNE
A vida é um jogo de ‘cara ou coroa’, cuja moeda pode bem estar falseada.
Se assim for, aposto na amizade.
O maior amor.
O mais generoso.
O mais puro.
Num brinde a todos os voos: “Happy landing”!
“Only Angels Have Wings” de Howard Hawks (1939)
“A man can die only once. We owe a debt to God. If we pay it today, we don’t have to pay it tomorrow.”
WILLIAM SHAKESPEARE
Um amor para além do tempo, outro amor para além da vida. Um ódio transportado dentro do sangue, uma indiferença humilhante. Um amor assassinado com palavras, outro amor resgatado num olhar.
Numa noite de Inverno como esta, só Ingmar Bergman (com o tempero de Johann Sebastian Bach) para nos fazer ver a beleza tão completa que a vida, em todas as suas vertentes, mesmo nas mais violentas, consegue abarcar.
“SARABAND”
Realização: Ingmar Bergman. Elenco: Liv Ullmann, Erland Josephson, Börje Ahlstedt, Julia Dufvenius, Gunnel Fred. Nacionalidade: Suécia / Itália / Alemanha / Finlândia / Dinamarca / Áustria, 2003.
O amor castrador.
O amor libertário.
O amor como condição necessária.
O amor como condição suficiente.
L’amour fou.
“L’Atalante” de Jean Vigo (1934)
A rara oportunidade de ver cinema espanhol / argentino fora do limitado alcance de um festival. O Cinerama viu-o há um ano atrás e recomenda.
Porque há músicas que davam filmes, porque estas meninas americanas prometem arrasar este mês no Shepherds Bush Empire em Londres, e porque hoje, só hoje, eu posso pôr aqui o que me apetece: