Nunca na vida escrevi uma linha sobre cinema (embora todos os anos elabore a minha lista pessoal dos 10 mais, que já agora foi liderada em 2003 pelo “O Pântano” da argentina Lucrécia Martel, mas que, convenhamos, se trata de um fraco substituto) e a verdade é que nunca senti grande necessidade de o fazer.
Gosto muito de cinema, vou muito ao cinema (quando por alguma razão passo muito tempo sem lá ir sinto de facto uma necessidade física de me ir meter numa sala de cinema para ver seja lá o quê, o que me leva a colocar-me numa qualquer classificação de junkie), acredito, piamente, que uma das grandes vantagens de se viver neste pais é o facto dos filmes serem legendados e não dobrados. Existem mais coisas é claro, mas nada que tivesse a ver com o facto de escrever sobre cinema. Acontece, no entanto, que esta minha amiga, que também gosta muito de cinema, que vai muito ao cinema (e neste campo ao pé dela não passo de um simples visitante ocasional) e que para além disso gosta de escrever sobre cinema decidiu criar este espaço. E convidou-me a participar nele. E pronto, aqui estou eu.
Em jeito de apresentação, o primeiro filme que eu vi foi um dos Herbies (“Herbie em Montecarlo” talvez?) algures no inicio dos anos 80, o último foi o “Tempo dos Lobos” do Michael Haneke, se tivesse que escolher o filme da minha vida escolhia o “Homens Simples” do Hal Hartley, não tenho actores ou actrizes favoritas (na verdade os actores e as interpretações não me interessam particularmente), escrevo sempre o nome do realizador à frente do titulo do filme e não compreendo como é que há alguém que prefira comprar uma copia pirata em DVD de um filme ainda em cartaz a ir vê-lo ao cinema (ainda que não seja de maneira nenhuma contra a pirataria e reconheça a importância da economia informal como mecanismo de inserção e integração social).
Pronto, e basicamente é isto.
Nos meus tempos de Aveiro, as salas de cinema à mão eram duas. Desmesuradamente grandes: no Cine-Teatro Avenida, onde vi a «Heidi» animada, ou no Teatro Aveirense, onde me sobressaltei com o encontro no milheiral com um famoso «ET». Com o estertor daquelas salas viveu-se o tempo das salas mais pequenas encafuadas em galerias e centros comerciais: o Estúdio 2002 e o Cine-Estúdio Oita (hoje, o único sobrevivente, com a exploração entregue ao "independente" Paulo Branco).
À chegada a Lisboa, descobri o mundo dos multiplexes e ecrãs pequenos, dos "kings" e filmes diferentes, da Cinemateca de culto, do Quarteto das noites longas de aniversário. Uma paleta de cores e telas, nunca vista antes. Consumia filmes a grande velocidade. Hoje, o tempo afasta-me mais do que queria do escuro das salas. Nem as pipocas o conseguiram tão eficazmente.
Mas, entre a curta DVDteca pessoal que vai trazendo algumas coisas mais antigas só agora vistas, e a rápida sortida às salas de cinema, quero apresentar aqui o que for descobrindo no mundo da sétima arte. Sem pretensões de crítico encartado. Apenas pelo prazer de ver cinema.
[Actualização: quando se escreve que o Oita é a única sala «sobrevivente», falamos daquelas quatro salas. Hoje, para além do Oita, Aveiro tem mais umas 15 salas, distribuídas entre a Lusomundo e a Warner-Lusomundo, com filmes a duplicar, numa falsa ilusão de variedade.]
Felizmente há paixões que não são vividas isoladamente. Por isso, a partir de hoje dois amigos igualmente “doentes” juntam-se a mim para viver esta experiência de partilhar cinema. Estou certa de que o seu contributo será precioso e as suas opiniões farão, no mínimo, levantar uma ou outra sobrancelha.
Bem-vindos ao maravilhoso mundo dos blogs!
RITA
Tudo começou com os “Aristogatos” (1970), de Wolfgang Reitherman, um filme animado que devo ter visto umas 10 vezes entre os 5 e os 8 anos, ou seja, entre 1981 e 1984.
O primeiro filme que fui ver sem companhia foi “Herbie no Rally de Monte Carlo” (1977), de Vincent McEveety. Mal eu sabia que isso seria o prenúncio de que a grande maioria das minhas experiências cinematográficas se iriam fazer a solo.
Mas foi só aos 12 anos, em 1988, que pela primeira vez me deixei tocar por um filme: “Fuga Sem Fim”, de Sidney Lumet.
Seguiu-se “O Meu Pé Esquerdo” (1989), de Jim Sheridan, o único filme que fui ver sozinha com a minha mãe.
“Um Anjo à Minha Mesa” (1990), de Jane Campion, gerou diversas discussões entre os rapazes e as raparigas do grupo. Os primeiros detestaram e recusaram-se a voltar a fiar-se nas nossas escolhas, e nós (já umas quase-mulheres) a defendermos com unhas e dentes que nem só de James Bonds vive o Homem.
Desde aí tem sido uma interminável viagem por estilos, países, culturas, um mundo de imagens que a cada cena me traz uma parte de um sonho. Hoje, com mais de 1000 filmes vistos (e isto numa listagem exaustiva ordenada por realizador) e com pelo menos uns 500 na lista de pendentes, encontro-me entre o “Intermission”, de John Crowley e o “Fahrenheit 9/11”, de Michael Moore.
Foi no início deste ano que se começou a desenhar na minha mente a possibilidade da simbiose de duas das minhas paixões: o cinema e a escrita. Pouco depois tinha algumas opiniões guardadas na gaveta, ou melhor, num folder do computador. Palavras fechadas e estanques, das quais tirei apenas o prazer de as escrever. Mas sabia que o prazer maior estava na partilha, em lançá-las no mundo e ver que palavras traziam elas de volta.
Por isso estou aqui hoje, neste preciso momento, a iniciar um jogo de opiniões, que ambiciosamente espero possa ser enriquecedor para todas as partes.
Bem-vindos e divirtam-se.